
Biomas e Formações Vegetais
A biodiversidade não se espalha de forma uniforme pela Terra. Esta segue padrões complexos determinados sobretudo pelo clima, pela geologia e pela história evolutiva do planeta. Esses padrões são chamados biomas.
Segundo o World Wildlife Fund (WWF), um bioma corresponde a uma "grande unidade de terra ou água contendo um conjunto geograficamente distinto de espécies, comunidades naturais e condições ambientais". Os seus limites não são fixos e nítidos, mas abrangem uma área dentro da qual os processos ecológicos e evolutivos importantes interagem mais fortemente.
Os vinte e seis tipos de habitat definidos pelo WWF, que descrevem áreas diferentes que compartilham condições ambientais semelhantes, estão divididos em três ecossistemas (terrestres, de água doce e marinhos) resultantes da análise regional da biodiversidade nos continentes e nos oceanos do mundo. Para representar os exemplos mais distintos, agrupamo os ecossistemas terrestres em doze biomas comummente aceites, tendo em conta os padrões de complexidade biológica e as adaptações de espécies similares, por forma a mostrar uma pequena parte da enorme diversidade de tipos de ambientes existentes. Isto significa que dentro de cada um destes biomas há uma gama de organismos que estão adaptados apenas a uma parte do bioma e outros que estão adaptados a toda a gama de condições dentro dos limites que estamos a definir.
Enquanto as florestas tropicais e os recifes de coral abrigam a maior parte da biodiversidade, encontramos manifestações únicas da natureza em regiões temperadas e boreais ou em desertos e cadeias montanhosas, que não ocorrem em nenhum outro lugar da Terra, e que correm o risco de serem perdidos para sempre se não forem conservados.

Distribuição da Floresta Equatorial e Tropical Húmida
Ⓒ CC BY-SA 3.0
Floresta equatorial e tropical húmida
Embora se estenda sensivelmente até aos 30º de latitude, este tipo de floresta encontra-se sobretudo em grandes manchas descontínuas localizadas entre a região equatorial e os Trópicos de Câncer e Capricórnio. São caracterizadas pela baixa variabilidade da temperatura anual e pelos elevados níveis de precipitação (superior a 1500 mm por ano). A composição da floresta é dominada por espécies de árvores caducifólias semiperenes e perenes que no seu conjunto podem ser divididas em cinco camadas bem definidas: camada emergente, dossel, sub-bosque, nível dos arbustos e, finalmente, a vegetação herbácea.
Aqui uma árvore pode crescer mais de 75 metros de altura em apenas 5 anos devido ao clima perpetuamente quente e húmido, que promove um crescimento de plantas explosivo, motivo pelo qual estas florestas abrigam mais espécies do que qualquer outro ecossistema terrestre (cerca de metade das espécies terrestres habitam neste lugar).
Podem ser encontradas em todo o mundo, particularmente no Arquipélago Indo-Malaio (conhecida por Floresta do Bornéu), na Bacia do Rio Amazonas (conhecida por Floresta Amazónica) e na Bacia do Rio Congo (conhecida por Floresta do Congo).
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Animais da floresta equatorial e tropical húmida
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De cima, a floresta aparece como um interminável mar verde, quebrado apenas por árvores emergentes mais altas e ocasionais onde podemos encontrar o reino dos calaus (Buceros sp.), dos tucanos (Ramphastos sp.) ou dos gaviões (Buteo sp.).
O dossel é o lar de muitos dos animais da floresta, incluindo os macacos (Macaca sp.) e os chimpanzés (Pan sp.). O chão da floresta, relativamente limpo de vegetação rasteira, devido à densa vegetação acima e consequente falta de luminosidade, é rondado por outros animais, como os gorilas (Gorilla sp.) e os veados (Cervus sp.).
Todas as camadas destas florestas contêm uma diversidade inigualável de espécies de invertebrados, incluindo bichos-pau únicos da Nova Guiné (e.g. Phobaeticus chani) e, imagine ainda ser sufocado por uma borboleta-pássaro voando a baixa altitude - uma borboleta com uma envergadura de 30 cm (e.g. Ornithoptera alexandrae).
Calau Bicórnio
Ⓒ CC BY-SA 2.0 DEBúteo de cauda vermelha
Ⓒ GFDL 1.2Chimpanzé comum
Ⓒ CC BY-SA 3.0Bicho Pau
Ⓒ CC BY 3.0Borboleta Pássaro
Ⓒ CC BY 3.0
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Sensibilidade a distúrbios
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Estas florestas estão sob uma enorme pressão provocada pelo Homem. Muitas são desflorestadas a um ritmo muito acelerado para darem lugar a campos agrícolas enquanto outras estão sujeitas à extração comercial em larga escala. Segundo o WWF uma área aproximadamente do tamanho da Irlanda é destruída todos os anos devido à exploração comercial e aos impactos secundários. Estas atividades ameaçam o futuro destas florestas e são a causa maioritária da extinção de cerca de 100 a 200 espécies em média por dia nos próximos quarenta anos.
No ritmo atual de desflorestação, mais de 17.000 espécies serão extintas a cada ano, o que é mais de 1.000 vezes a média antes do Homem chegar a este planeta. São sobretudo as regiões mais isoladas, como os habitats insulares, cujo os seus endemismos locais refletem a riqueza biológica e a complexidade destas florestas, que mais sofrem com este problema.
Estes frágeis habitats são altamente sensíveis à lavoura, que apesar da riqueza de espécies apresenta um solo muito pobre em nutrientes, ao pastoreio excessivo e às alterações climáticas. Também os vertebrados maiores são muito sensíveis à redução de habitat e à pouca quantidade de prezas.
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Galeria de imagens
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Parque Nacional Madidi, localizado junto ao rio Beni, perto da cidade de Rurrenabaque, Bolívia.
Ⓒ Dominiu públicuNa imagem pode ver-se, a partir do dossel da Floresta Equatorial no Instituto de Pesquisa Florestal da Malásia, os efeitos na copa das árvores conhecidas por cânforas do Bornéu (Dryobalanops aromatica), Malásia.
Ⓒ CC BY-SA 3.0A humidade sempre constante da Floresta Equatorial pode ver-se nesta ponte suspensa em Puerto Viejo de Sarapiqui, Costa Rica.
Ⓒ CC BY 1.0Selva nubosa do monte Kinabalu, Bornéu.
Ⓒ CC BY-SA 2.5Vista aérea da Floresta Amazónica tirada de um avião, Brasil.
Ⓒ CC BY 3.0Parque Nacional de Daintree no extremo norte de Queensland, Austrália.
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Distribuição da Floresta Tropical Seca
Ⓒ CC BY-SA 3.0
Florestas tropicais e subtropicais secas
A floresta tropical e subtropical seca de folha larga é um dos catorze tipos de habitat terrestres definidos pelo WWF e está localizada em latitudes tropicais e subtropicais. Esta desenvolve-se em grandes extensões de terra entre os trópicos que não recebem precipitação suficiente para suportar uma extensa floresta.
Embora estas florestas se desenvolvam em climas permanentemente quentes e possam receber milhares de milímetros de chuva por ano, a vegetação teve de se adaptar às longas estações secas que duram vários meses e que variam de acordo com a sua localização geográfica. Contrariamente às florestas equatorial e tropical húmida, onde não há registo de uma estação seca, são as árvores de folha caduca que predominam neste bioma.
Essas secas sazonais têm grande impacto em todos os seres vivos da floresta. Durante a estação seca, variando de espécie para espécie, a maioria da vegetação, como o ébano (Diospyros sp.) ou a teca (Tectona sp.), perde a sua folhagem para combater a perda de humidade através das suas folhas. Desprovidas da sua cobertura, as árvores permitem que a luz solar atinja o nível do solo e facilite o crescimento da vegetação rasteira espessa. Este bioma corresponde à transição entre as florestas equatorial e tropical húmida e a savana.
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Animais da floresta tropical seca
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Embora biologicamente menos diversa do que as florestas equatorial e tropical húmida, as florestas tropicais secas ainda abrigam uma grande variedade de vida selvagem, incluindo macacos (Macaca sp.), grandes felinos, como os leões (e.g. Panthera leo), papagaios (e.g. Amazona leucocephala) e vários roedores que vivem no solo.
A grande fauna de mamíferos inclui uma variedade de predadores e presas que representam, na maior parte, elementos difundidos na transição entre a floresta tropical húmida e a savana. Entre as presas, geralmente com cascos duros, encontramos por exemplo a seixa (Philantomba monticola), o porco vermelho africano (Potamochoerus porcus) ou o cudo (Tragelaphus strepsiceros), perseguidos constantemente por mabecos (Lycaon pictus). Muitas dessas espécies apresentam adaptações extraordinárias às difíceis condições do clima.
Leão
Ⓒ CC BY-SA 2.0Papagaio cubano
Ⓒ CC CC BY 2.0Seixa
Ⓒ Domínio públicoPorco vermelho africano
Ⓒ CC BY 3.0Mabeco
Ⓒ CC BY-SA 4.0
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Sensibilidade a distúrbios
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As florestas tropicais secas são altamente sensíveis à queima excessiva e à desflorestação, ao sobrepastoreio e às espécies exóticas que também podem alterar rapidamente as comunidades naturais existentes. A sua restauração é possível, mas desafiadora, especialmente se a degradação tiver sido intensa e persistente.
Como as espécies animais têm áreas de distribuição mais extensas do que nas florestas equatorial e tropical húmida, a conservação destas florestas requer a proteção de áreas extensas e contínuas para garantir a sobrevivência de grandes predadores e para proteger as suas espécies da caça. Estas grandes extensões de floresta são também necessárias para permitir a recuperação das diversas espécies após eventos ocasionais, como incêndios florestais.
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Galeria de imagens
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Parque Nacional de Doi Inthanon, Tailândia.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Floresta Topical Seca na ilha de Chacachacare, Trindade e Tobago onde se pode verificar a natureza caducifólia da vegetação.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Floresta Tropical Seca em Chaco, Paraguai.
Ⓒ CC BY 1.0Floresta Tropical Seca com baobás (Adansonia grandidieri), Madagáscar.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Floresta Tropical Seca em Bandipur, Índia.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Langures cinzento (Semnopithecus priam) na reserva dos animais selvagens de Chinnar em Kerala, Índia.
Ⓒ CC BY-SA 2.0

Distribuição das Savanas e Pradarias Tropicais
Ⓒ CC BY-SA 3.0
Savanas e pradarias tropicais e subtropicais
As savanas são, em poucas palavras, um bioma de transição: não é uma floresta e não é um deserto, corresponde a um lugar, geralmente plano, entre os dois. As grandes extensões de terra nos trópicos que não recebem chuva suficiente para suportar uma extensa cobertura de árvores dão origem a este tipo de habitat. As pradarias e savanas tropicais e subtropicais são caracterizadas por níveis de precipitação média anuais entre 900 e os 1500 milímetros.
No entanto, apesar da reduzida precipitação, pode haver grande variabilidade na humidade do solo ao longo do ano. As gramíneas dominam a composição de espécies dessas regiões, embora a paisagem seja frequentemente completada por algumas árvores dispersas. Os grandes mamíferos que evoluíram para aproveitar as amplas pastagens dos períodos húmidos, tipificam a biodiversidade associada a esses habitats.
A fauna de grandes mamíferos é mais rica nas savanas africanas, onde ainda podemos deslumbrar enormes assembleias intactas. Quase metade deste continente está coberto por este bioma. Também pode ser encontrado noutros continentes, no entanto, a diversidade de plantas e animais não é tão rica.
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Animais das pradarias e savanas topicais
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Se já assistiu a um programa de televisão sobre a vida selvagem africana, provavelmente está mais familiarizado com a savana do que talvez imagine.
A principal característica faunística deste bioma são as grandes manadas de mamíferos, que exibem uma distribuição bastante generalizada. África é o lar do maior mamífero terrestre do mundo, o elefante africano (Loxodonta africana).
Adaptados às largas estações secas, através das longas migrações anuais, encontramos herbívoros de grande porte como o búfalo africano (Syncerus caffer), a girafa (Giraffa sp.) ou o rinoceronte (e.g. Ceratotherium simum); herbívoros de porte médio como o gnu (Connochaetes taurinus), a impala (Aepyceros melampus) ou a zebra (Equus quagga); mamíferos felinos predadores como o leão (Panthera leo), o leopardo (Panthera pardus) ou a chita (Acinonyx jubatus); ou aves como a águia (e.g. Haliaeetus vocifer), a avestruz (Struthio camelus) ou o abutre (e.g. Gyps fulvus).
Elefante africano
Ⓒ CC BY-SA 4.0Búfalo africano
Ⓒ CC BY 2.5Girafa
Ⓒ CC BY-SA 3.0Zebra
Ⓒ GFDL 1.2Abutre
Ⓒ CC BY-SA 2.0
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Sensibilidade a distúrbios
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O potencial de restauração nestes biomas é bastante elevado devido à sucessão das estações. Todavia, a lavoura, o sobrepastoreio de animais domésticos e a queima excessiva podem degradar e alterar rapidamente as comunidades naturais.
Também a alteração dos padrões de águas superficiais podem ter impacto na persistência de muitas espécies de vertebrados. Muitas espécies são altamente sensíveis à caça de baixa intensidade ou a outras atividades humanas como o turismo, apesar de este ter sido uma grande ajuda na vontade de preservar as savanas.
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Galeria de imagens
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Reserva Nacional Masai Mara, no Quénia.
Ⓒ CC BY 2.0Elefantes africanos (Loxodonta africana) vagueiam no Santuário de Vida Selvagem de Taita Hills, Quénia.
Ⓒ CC BY 3.0Araras (Ara ararauna) no Parque Nacional das Emas no estado do Goiás, Brasil.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Cerrado na região de Pirenópolis, Goiás.
Ⓒ Domínio públicoParque Nacional de Tarangire, na Tanzânia.
Ⓒ Domínio públicoEm primeiro plano podem ver-se zebras (Equus quagga) no Parque Nacional do Serengeti, Tanzânia.
Ⓒ CC BY 2.0

Distribuição da Vegetação Xerófila dos Desertos
Ⓒ CC BY-SA 3.0
Vegetação xerófila adaptada à secura e às amplitudes térmicas
Quando imaginamos um deserto pensamos em calor, em areia e num espaço enorme vazio. Contudo, basta pensarmos na Antártida, coberta de gelo, e nas suas temperaturas mínimas que atingem 80º Celsius negativos, para verificarmos que nem sempre isso acontece. A Antártida recebe muito pouca precipitação, o que a torna num deserto pois é, muitas vezes, a falta de chuva ou outras formas de precipitação que definem um deserto.
Os desertos cobrem cerca de 20% do planeta Terra e estão em todos os continentes. Geralmente, encontram-se nas latitudes médias, sensivelmente entre os 20 a 50 graus latitude. A quantidade de chuvas que os desertos recebem varia muito de lugar para lugar mas raramente excede os 255 milímetros anuais. Por norma, a evaporação excede a precipitação e a variabilidade de temperaturas é também muito diversificada. Muitos desertos como o deserto do Saara, no continente africano, são quentes durante todo o ano, outros como o deserto de Gobi, no continente asiático, tornam-se bastante frios de inverno.
Os extremos de temperatura são também uma das principais características da maioria dos desertos. Ao calor intenso do dia sucedem-se noites geladas devido à falta de isolamento térmico fornecido pela a humidade e pela presença de nuvens. Surpreendentemente, embora que bastante severo, este bioma suporta uma grande variedade de habitats, muitos deles efémeros refletindo a escassez e a sazonalidade de água disponível.
O deserto do Namibe, no sudoeste africano, é o mais rico em flora seguido do deserdo de Chihuahuan, que cobre parte do México e dos EUA. Enquanto os desertos australianos albergam a fauna de répteis mais rica do mundo, encontramos gigantescas comunidades de catos colunares nos desertos do Sonora e Baja na América do Norte ou vegetação composta essencialmente por arbustos espinhosos no sudoeste de Madagáscar. Os desertos da Ásia Central, embora não sejam tão ricos em fauna e flora, são representativos dos desertos da região.
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Animais dos desertos quentes
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As temperaturas extremas e a falta de precipitação criam um desafio enorme aos animais que vivem nos desertos. A maioria desenvolveu adaptações ou formas de vida para sobreviverem nestas condições. Entre eles encontramos, por exemplo no deserto do Sonora, o monstro de gila (Heloderma suspectum), um dos três únicos lagartos venenosos do mundo (os outros dois são: lagarto de contas (Heloderma horridum) e o dragão-de-komodo (Varanus komodoensis), ou a tartaruga do deserto (Gopherus sp.), que descansam no subsolo durante a maior parte do verão quente e seco e usam a bexiga para armazenar água como se de uma garrafa se tratasse.
Alguns desertos também têm riachos que são causados por neve derretida ou chuva de montanhas próximas. Estes riachos normalmente não duram muito mas são o suficiente para alguns sapos (e.g. Breciceps adspersus), depositarem seus ovos e desenvolverem seus filhotes. Na Austrália o diabo espinhoso (Moloch horridus), com apenas vinte centímetros adaptou-se a comer formigas. Tal como o camaleão controla a sua coloração conforme o tipo de solo para se camuflar. Para beber o diabo espinhoso condensa o humidade existente nas noites frias nas escamas e canaliza-a até à boca através de sulcos existentes por entre os espinhos.
O deserto do Kalahari, em África, possui também uma enorme variedade de outros predadores como o gato selvagem africano (Felis lybica), o gato preto (Felis nigripes) a doninha comum (Ictonyx striatus), a gineta comum (Genetta genetta), o morcego orelhudo (Plecotus sp.) ou o mangusto (Mungos sp.).
Monstro de gila
Ⓒ Domínio públicoTartaruga do deserto
Ⓒ Public DomainDiabo espinhoso
Ⓒ CC BY-SA 3.0Morcego orelhudo
Ⓒ CC BY 3.0Mangusto
Ⓒ Public Domain
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Sensibilidade a distúrbios
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Muitas espécies procuram os escassos recursos sazonais pelo que necessitam geralmente de grandes paisagens naturais. As fontes de água e habitats ribeirinhos também são fundamentais para a sobrevivência de muitas espécies.
Este bioma, nas suas mais diversificadas possibilidades, é extremamente sensível ao pastoreio, às alterações efetuadas no solo como a aração ou a queima do coberto vegetal e à introdução de espécies exóticas. O potencial de restauração pode ser muito baixo e a regeneração muito lenta.
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Galeria de imagens
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Dunas de areia no Deserto de Gobi, Mongólia.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Lamas (Lama glama) na árida paisagem do Deserto do Atacama, Chile.
Ⓒ CC BY-SA 2.0 deDeserto do Kalahari, Namíbia.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Deserto do Atacama próximo de Calama, Chile.
Ⓒ CC BY-SA 4.0Lago e oásis de Gabraon em pleno Deserto do Sara, Líbia.
Ⓒ CC BY-SA 2.5Parque Nacional de Saguaro no Arizona, EUA.
Ⓒ CC BY 2.0

Distribuição da Floresta Mediterrânea
Ⓒ CC BY-SA 3.0
Florestas mediterrâneas, bosques e arbustos
Os bosques e florestas mediterrâneas ou mediterrânicas são caraterizadas pela existência de verões quentes e secos e invernos amenos, mas tendencialmente mais frios e húmidos. A maioria da precipitação ocorre durante as estações do outono e inverno. Sendo um bioma muito específico, apenas cinco regiões mundiais apresentam as condições exclusivas ao seu desenvolvimento: em torno do mar Mediterrâneo (sobretudo na costa norte), o centro-sul e o sudoeste da Austrália, os fynbos da África Austral, o matorral chileno e os habitats mediterrânicos da Califórnia, nos EUA.
Embora o habitat seja globalmente raro, apresenta uma extraordinária biodiversidade de espécies de animais e plantas exclusivamente adaptadas às condições stressantes dos verões quentes e longos com pouca chuva. A maioria das plantas está ainda adaptada ao fogo e dependente dessa perturbação pela sua presença e persistência sistemática. As cinco regiões de clima mediterrâneo são altamente distintivas, abrigando no seu conjunto, segundo o WWF, cerca de 10% das espécies de plantas da Terra.
Entre elas podemos apontar algumas das mais caraterísticas, resistentes às condições enunciadas e ainda aos solos normalmente pobres e pedregosos. O sobreiro (Quercus suber) estende-se desde a costa até às baixas e médias altitudes, a azinheira (Quercus ilex) e o azevinho (Quercus coccifera) são comuns e podem facilmente suportar variações de temperatura e precipitação e adaptar-se a qualquer tipo de substrato. As florestas de oliveiras silvestres (Olea sp.) e alfarrobeiras (Ceratonia siliqua) já estiveram também amplamente espalhadas ao longo das planícies costeiras e do interior mais quentes e secas. Todavia, apenas alguns remanescentes mantêm a estrutura natural deste tipo de floresta devido à intensa transformação dos solos em terras agrícolas.
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Animais da floresta mediterrânica
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Na costa sul da Península Ibérica, caracterizada por uma paisagem formada por extensas matas silvopastoris semi-naturais, encontramos as paisagens conhecidas como "montados" em Portugal e como "dehesas" em Espanha. Historicamente, estas têm representado sistemas de gestão multiusos muito eficientes e adaptadas a condições ambientais adversas impostas pelos solos de baixa qualidade e pelo clima severo. Este bioma serve de habitat a algumas das espécies mais ameaçadas da Europa, como o lince ibérico (Lynx pardinus), a águia imperial (Aquila heliaca) e a abetarda comum (Otis tarda).
Este habitat também representa um refúgio importante para mamíferos como a lontra comum (Lutra lutra) e para um número importante de répteis como o cágado de carapaça estriada (Emys orbicularis), a tartaruga de pescoço listrado (Mauremis caspica) ou o camaleão comum (Chamaelo chamaelon), bem como algumas espécies invernantes como o pato real (Anas platyrhynchos) ou o pato de bico vermelho (Netta rufina).
As florestas mediterrânicas constituem ainda enclaves importantes de refúgio aos invernos frios do norte para milhares de grous (Grus grus) e também áreas de reprodução para centenas de cegonhas-brancas (Ciconia ciconia) ou ainda a cegonha-preta ameaçada de extinção (Ciconia nigra).
Línce Ibérico
Ⓒ CC BY 3.0 esÁguia imperial
Ⓒ CC BY 2.0Abetarda comum
Ⓒ CC BY-SA 1.0Grou comum
Ⓒ CC BY-SA 2.5Cegonha branca
Ⓒ CC BY-SA 3.0
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Sensibilidade a distúrbios
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As comunidades naturais são altamente sensíveis à fragmentação do habitat, ao pastoreio e à alteração dos regimes de fogo (queima excessiva ou supressão de fogo). As espécies nativas estão particularmente em risco devido à pressão exercida por plantas exóticas e animais que se estabelecem e se espalham com facilidade nestas comunidades. A sua restauração é possível mas, os regimes de fogo devem ser controlados e as espécies exóticas controladas de forma eficaz.
Como o endemismo regional e local é bastante comum, algumas espécies com faixas altamente restritas necessitam de habitats grandes o suficiente para sustentar eventos regulares de incêndio de forma a que os fragmentos não queimados funcionem como refúgio para as espécies já muito afetadas pela mudança no uso e degradação do solo. O turismo, a urbanização e a construção de estradas são as ameaças mais sérias a este ecossistema.
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Galeria de imagens
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Paisagem típica do Clima Mediterrâneo com o gado a pastar sob os sobreiros em Huelva, Espanha.
Ⓒ CC BY-SA 2.5Vegetação típica do Clima Mediterrâneo no Chile. Ao fundo pode ver-se o monte Aconcágua na cordilheira dos Andes.
Ⓒ CC BY-SA 3.0O garrigue é um tipo de arbustos baixos encontrado em solos de calcário no Clima Mediterrâneo, geralmente perto do litoral onde o clima é mais húmido.
Ⓒ CC BY 2.0Vegetação rasteira na garganta de Aliso nas montanhas de Santa Susana na Califórnia, EUA.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Os longos períodos sem chuva, típicos deste clima, deixam os campos do Alentejo secos como resultado, Portugal.
Ⓒ CC BY 2.0Vista da região costeira do Mediterrâneo na Costa Brava, Espanha.
Ⓒ CC BY-SA 3.0

Distribuição da Floresta Temperada Caducifólia
Ⓒ CC BY-SA 3.0
Florestas temperada caducifólia
A floresta temperada caducifólia, também conhecida por floresta caduca ou decídua é um tipo de habitat localizado nas regiões de clima temperado do planeta. As espécies que tipificam a composição desta floresta, como o carvalho (Quercus sp.), a faia (Fagus sp.), a bétula (Betupa sp.) ou o bordo (Acer sp.), são espécies que se adaptaram às quatro estações muito bem definidas.
No outono, as folhas adquirem a sua coloração típica, do vermelho ao castanho, passando pelo amarelo ao alaranjado. Isto porque, neste período, as árvores começam a transportar os nutrientes das folhas para os caules e raízes, onde ficam armazenados, criando reservas para suportar o inverno frio e seco das regiões temperadas. A queda das folhas está portanto associada a uma adaptação das plantas na defesa contra o frio e a seca, uma vez que o inverno, que dura cerca de três meses, é bastante rigoroso e a água congela no solo.
O solo destas florestas é muito rico em nutrientes devido, sobretudo, ao processo natural de decomposição das folhas. A acumulação de matéria orgânica dá-se sobretudo nos primeiros horizontes do solo, que possuem, por isso, uma cor mais escura. Além das árvores, aparecem várias outras espécies mais próximas do solo.
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Animais da floresta temperada caducifólia
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Contrariamente às florestas equatoriais e tropicais húmidas a maior parte da biodiversidade concentra-se muito mais perto do chão da floresta. O desenvolvimento de vegetação arbustiva e herbácea neste bioma facilitado pela queda das folhas no inverno, permitindo desta forma que os raios solares atinjam o solo durante o resto do ano, e consequente desenvolvimento da vegetação dá origem a outra característica importante da floresta temperada: a diversidade de espécies animais.
As aves predominam e os mais experientes conseguem facilmente identificar várias mesmo sem as ter visto, como por exemplo pica-pau orelhudo (Dryocopus pileatus), distribuído pela América do norte, ou o quebra nozes (Nucifraga caryocatactes), o melro preto (Turdus merula) ou o gaio (Garrulus glandarius) na Europa. Algumas espécies migram durante os meses mais frios como a cegonha branca (Ciconia ciconia) ou a andorinha das chaminés (Hirundo rustica).
Nas florestas norte-americanas, existem duas espécies de ursos: o urso negro (Ursus americanus) e o urso pardo (Ursus arctos), ambos omnívoros e, como forma de adaptação às baixas temperaturas do inverno, são espécies que hibernam. A fauna é ainda composta por esquilos (e.g. Sciurus vulgaris), veados (e.g. Cervus elaphus), javalis (e.g. Sus scrofa), corujas (e.g. Bubo bubo) ou lobos (e.g. Canis lupus).
Pica-pau orelhudo
Ⓒ CC BY-SA 3.0Melro preto
Ⓒ Domínio públicoGaio comum
Ⓒ CC BY-SA 3.0Esquilo vermelho
Ⓒ CC BY-SA 2.0 de
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Sensibilidade a distúrbios
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Algumas espécies são altamente sensíveis ao fracionamento de habitats, tais como as aves. Estas estão ainda muito expostas ao parasitismo ou predação elevada dos seus ninhos. Muitas espécies do solo da floresta também são incapazes de atravessar grandes áreas desmatadas.
Ainda assim, o potencial de restauração destas florestas é elevado mas, as espécies exóticas podem ter impactos extensivos e significativos nas comunidades nativas. A perda de grandes predadores nativos tem muitos impactos em cascata na estrutura e ecologia destas floresta.
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Galeria de imagens
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Floresta Temperada caducifólia em Nova Jersey, EUA.
Ⓒ CC BY 2.0Floresta de carvalhos (Quercus robur) num dia frio de inverno em Langå, Dinamarca.
Ⓒ CC BY 2.5Na imagem pode ver-se um acer (Acer platanoides) em Berlin na sua típica coloração de outono, Alemanha.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Como muitas flores de Floresta Temperada Caducifólia, a Forsythia tem a sua floração mesmo antes de se desenvolver a folhagem.
Ⓒ CC BY-SA 2.5Coloração típica da Floresta Temperada Caducifólia nas montanhas de Vermont Hogback, EUA.
Ⓒ CC BY-SA 4.0No início da primavera as diversas espécies iniciam o seu ciclo vegetativo.
Ⓒ Public Domain

Distribuição da Floresta Temperada Mista e Estepe
Ⓒ CC BY-SA 3.0
Florestas temperada mista e estepe
A floresta temperada mista corresponde a uma transição entre a floresta temperada caducifólia e a taiga que veremos mais adiante. Deste modo, tanto encontramos espécies de folha caduca como de árvores de folha persistente, principalmente coníferas. Esta formação vegetal é ainda distinguida pela existência de espécies arbóreas características das regiões tropicais. Encontram-se árvores de grande porte mas geralmente com folhas mais pequenas.
A estepe corresponde a um bioma caraterizado pela existência principalmente de vegetação rasteira e desprovido de árvores. Contudo, este habitat alberga pequenas florestas em torno do córrego dos rios e ribeiros. Na América do norte este bioma é denominado por pradaria, na América do sul por pampa, na Ásia por estepe. Diferem, em grande parte, das savanas tropicais sobretudo nas temperaturas anuais e nas espécies aqui encontradas.
Nas encostas sombreadas de vales e terraços fluviais podemos encontrar alguns choupos (Populus sp.) ou o salgueiro (Salix sp.).
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Animais da floresta temperada mista e estepe
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A biodiversidade nestes habitats inclui um grande número de mamíferos herbívoros e seus predadores associados, além de mamíferos que vivem em tocas, numerosas espécies de aves e, é claro, uma enorme diversidade de insetos.
As vastas extensões de gramíneas na América do Norte e na Eurásia outrora sustentaram vastas migrações de grandes vertebrados, como búfalo (Bubalus bubalis), a saiga (Saiga tatarica) e antílopes tibetanos (e.g. Pantholops hodgsoni) ou o burro (e.g. Equus hemionus). Tais fenómenos extraordinários ocorrem agora apenas em locais isolados, principalmente no Planalto Tibetano.
Na América do norte grande parte da fauna de aves é composta por espécies tipicamente associadas aos buracos das pradarias: o falcão ferruginoso (Buteo regalis) e o falcão de Swainson (Buteo swainsoni), a águia real (Aquila chrysaetos), a perdiz (Tympanuchus phasianellus) ou a tarambola (Charadrius montanus). O veado de cauda negra e de cauda branca (Odocoileus hemionus e O. virginianus), o lince (Lynx rufus) e o puma (Felis concolor) são grandes mamíferos típicos deste habitat. Podemos encontrar ainda o lagarto de chifre curto (Phrynosoma douglassi) e a cascavel ocidental (Crotalus viridis).
Saiga
Ⓒ CC BY-SA 4.0Falcão ferruginoso
Ⓒ CC BY-SA 4.0Perdiz
Ⓒ Public DomainLagarto de chifre curto
Ⓒ CC BY-SA 3.0Cascavel ocidental
Ⓒ Public Domain
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Sensibilidade a distúrbios
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A lavra da estepe, das pradarias e da pampa pode alterar drasticamente a composição de espécies e o potencial de restauração de comunidades naturais. A perda e degradação de habitats ribeirinhos e fontes de água tem impactos significativos sobre a vida selvagem.
Também o sobrepastoreio causa mudanças significativas na comunidade, nomeadamente a erosão e redução no potencial de restauração. Por outro lado a redução drástica de espécies nativas, como o búfalo (Bubalus bubalis), a saiga (Saiga tatarica) e o cão da pradaria (Cynomys sp.), pode ter grandes impactos nas comunidades de animais e plantas.
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Galeria de imagens
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Pradaria nas Grandes Planícies do estado do Kansas, EUA.
Ⓒ Domínio públicoTípica estepe russa na região de Orenburg Oblast, Rússia.
Ⓒ CC BY-SA 4.0Estepe no Cazaquistão.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Nas pradarias norte americanas são comuns as manadas de bisontes (Bison bison) alimentando-se das gramíneas existentes.
Ⓒ Domínio públicoPampa argentina próxima de Buenos Aires, Argentina.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Estepe fria da Patagónia, Argentina.
Ⓒ CC BY-SA 4.0

Distribuição da Floresta Boreal de Coníferas
Ⓒ CC BY-SA 3.0
Florestas boreal de coníferas
A floresta boreal de coníferas também conhecida por taiga localiza-se sobretudo a norte do Círculo Polar Ártico (lat. 66º 33' N), podendo no entanto localizar-se em latitudes ligeiramente inferiores. As baixas temperaturas que caraterizam estas regiões, a precipitação pouco abundante (entre 40 e 100 mm por ano) principalmente sob a forma de neve juntamente com os solos pobres em nutrientes (em grande parte resultado do permafrost e a resultante má drenagem) favorecem a preponderância de espécies coníferas embora espécies de árvores decíduas também sejam bastante comuns. A cobertura do solo é dominada por musgos, cogumelos e líquenes.
É preciso muita teimosia para sobreviver ao inverno rigoroso da taiga. Durante cerca de nove meses as temperaturas podem variar entre -54° C e -1° C. O sol não brilha por muito tempo durante o inverno e com dias tão curtos e as temperaturas tão baixas até a decomposição das plantas e dos animais mortos podem demorar meses.
Muitos animais comem qualquer planta que possam encontrar, mastigando sementes de pinhas ou brotos verdes enterrados sob a neve. Para outros que não encontram comida suficiente durante o inverno, a hibernação é outra opção. Outros ainda deixam a taiga e migram para o sul, para biomas mais quentes durante inverno.
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Animais da floresta boreal de coníferas
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À medida que os dias crescem, o ar aquece. As temperaturas variam entre -7° C e 21° C no verão. Isto pode não parecer muito quente, mas para aqueles que vivem na taiga, os verões são bastante atarefados. Animais em hibernação emergem de suas tocas para procurar parceiros. Populações de insetos florescem. As aves migratórias chegam aos pântanos para encontrar parceiros e começar a construir ninhos. A taiga desperta com muita atividade porque o verão é curto (entre um e três meses) e as flores e animais devem acasalar e reproduzir-se antes que o inverno regresse.
No Alasca reproduzem-se nas florestas dos vales dos rios o castor (Castor canadensis), o alce (Alces alces) ou a lebre (e.g. Lepus americanus), assim como a lontra (Lontra canadensis), a marta (Martes americana) ou o rato almiscarado (Ondatra zibethica). Encontramos ainda outros animais selvagens nesta região como o urso pardo (Ursus arctos), a raposa vermelha (Vulpes vulpes), a águia pesqueira (Pandion haliaetus) ou o tetraz (Dendragapus canadensis) que se alimentam principalmente de salmão (e.g. Oncorhrynchus tshawytscha), que desovam nos rios da região.
Neste bioma as migrações em larga escala de renas (Rangifer tarandus) bem como os seus predadores como os lobos (Canis lupus) ainda podem ser encontradas em algumas regiões relativamente inalteradas, como por exemplo, as florestas boreais das cordilheira do norte do Canadá que são por vezes reconhecidas como o "Serengeti" do extremo norte devido à abundância e diversidade de grandes vertebrados.
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Sensibilidade a distúrbios
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A regeneração de florestas maduras leva períodos de tempo muito longos devido ao clima desafiador e às condições do solo. Por outro lado, muitos vertebrados maiores são sensíveis à presença humana ou à caça. Esta floresta é muito sensível à chuva ácida e outras formas poluentes.
As grandes paisagens naturais da taiga são críticas para manter populações de espécies, como as lebres (e.g. Lepus americanus), que buscam recursos que variam consideravelmente no espaço e no tempo, por serem muito vulneráveis a situações epizoóticas (ou seja, doenças que atacam ao mesmo tempo animais da mesma espécie). Também as populações de grandes carnívoros que exigem áreas naturais muito extensas devido aos seus estilos de vida correm perigo devido à desflorestação e aos incêndios que podem cobrir áreas extremamente grandes.
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Galeria de imagens
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Na imagem pode ver-se o Pinheiro do Canadá (Picea glauca) com a sua forma típica de uma Floresta Boreal de Coníferas.
Ⓒ Public DomainLago de Jack London em Kolyma, Magadan Oblast. Pinus pumila em primeiro plano, Rússia.
Ⓒ CC BY 3.0Os lagos são comuns na Floresta Boreal de Coníferas como ocorre no Parque Nacional Helvetinjärvi, Finlândia.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Taiga junto a Verkhoyansk, na Rússia. Devido à extrema continentalidade esta região enfrenta as temperaturas mais frias no hemisfério norte durante o inverno, mas a média diária de junho atinde os 22 °C.
Ⓒ Public DomainVários dos rios mais longos do mundo atravessam a Taiga como o rio Yukon no Alaska, EUA.
Ⓒ CC BY 2.0Floresta de abeto vermelho (Picea rubens) na Reserva Natural Nacional de Kenai, Alaska.
Ⓒ CC BY-SA 3.0

Distribuição da Tundra
Ⓒ CC BY-SA 3.0
Planícies geladas da tundra
A tundra é um deserto polar sem árvores encontrado nas latitudes das regiões polares principalmente no hemisfério norte, nomeadamente no Alasca, no Canadá, na Rússia, na Gronelândia, na Islândia e na Escandinávia e ainda na Antártida no hemisfério sul. Os invernos longos e secos da região apresentam meses de total escuridão e temperaturas extremamente geladas. Na tundra, o verão é a única época do ano em que a temperatura do ar sobe acima de 0º C. Longe do Equador, a luz do sol sendo menos intensa devido à inclinação dos raios solares, faz com que as temperaturas desçam a valores negativos impressionantes.
Estruturalmente, a tundra é uma extensão sem árvores que suporta comunidades de juncos (Juncus sp.) e urzes (Calluna sp.) e alguns arbustos de pequena dimensão. A vegetação é geralmente dispersa, embora se reflitam mudanças mudanças na vegetação do solo consoante o gradiente de humidade. A maior parte da precipitação cai sob a forma de neve durante o inverno e os solos tendem a ser ácidos e saturados com água quando não congelados.
Embora pobre em vegetação, este bioma apresenta algumas regiões bastante distintas pois exibem, por vezes, um nível apreciável de endemismos de plantas.
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Animais das planícies geladas da tundra
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Existe uma grande diversidade de espécies de mamíferos que habitam neste habitat. Notavelmente, é a região onde ocorre um elevado número de partos de alguns dos maiores rebanhos renas (Rangifer tarandus). Outros mamíferos incluem o urso pardo (Ursus arctos), o urso preto (Ursus americanus) ou, em áreas costeiras, os ursos polares (Ursus maritimus). O lobo (Canis lupus), o alce (Alces alces), o esquilo do ártico (Spermophilus parryi) e o lemingue castanho (Lemmus sibiricus), fazem também parte deste ecossistema.
Muitas aves migratórias dependem deste bioma para local de reprodução e nidificação. Algumas espécies representativas incluem a movela de bico amarelo, de garganta vermelha e do ártico (Gavia adamsii, G. stellata e G. arctica), o cisne da tundra (Cygnus columbianus), o ganso da neve (Chen caeruleswcens) ou a coruja das neves (Nytctea scandiaca).
No ambiente marinho, as espécies típicas incluem a morsa (Odobenus rosmarus), a foca (Phocidae), a baleia beluga (Delphinapterus leucas) ou o narval (Monodon monoceros).
Esquilo do ártico
Ⓒ Domínio públicoLemingue castanho
Ⓒ Public DomainMovela de bico amarelo
Ⓒ Public DomainCisne da Tundra
Ⓒ CC BY-SA 2.5Coruja das neves
Ⓒ CC BY-SA 4.0
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Sensibilidade a distúrbios
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A cobertura vegetal é altamente sensível a perturbações e apresenta muitas dificuldades em recuperar a sua forma original após sofrer uma forte deformação. Muitos vertebrados são altamente sensíveis à presença de seres humanos ou à caça de baixa intensidade. Os ecossistemas polares são também particularmente sensíveis às mudanças climáticas.
Os vastos habitats naturais são necessários para permitir que muitas espécies procurem os recursos irregulares que variam em localização de um ano para o outro, como por exemplo o lemingue (e.g. Lemmus sp.). A presença de habitats variados e recursos associados é crítica para a sobrevivência de muitos vertebrados e é fundamental que se mantenham intactos os seus corredores de migração para permitir os movimentos sazonais em grande escala, como por exemplo as renas (Rangifer tarandus).
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Galeria de imagens
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Parque Nacional de Vuntut, Canadá.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Tundra na Siberia.
Ⓒ CC BY 2.0 dePenínsula de Rallier du Baty, Terras Austrais e Antárticas Francesas.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Na imagem pode ver-se uma manada de bois almiscarados (Ovibos moschatus) e alguns gansos (Branta canadensis) na paisagem típica da Tundra do Alasca, EUA.
Ⓒ CC BY 2.0Tundra alpina nos Montes Urais, Rússia.
Ⓒ CC BY 2.0Parque Nacional das Montanhas Torngat, Canadá.
Ⓒ Public Domain

Distribuição dos Pastos e Matagais de Alta Montanha
Ⓒ CC BY-SA 3.0
Pastos e matagais de alta montanha
Este tipo de habitat, também conhecido como tundra alpina, inclui pastagens e matagais de grande altitude nomeadamente a dos planaltos tibetanos, bem como outros habitats semelhantes em todo o mundo. Este tipo de floresta está muito bem definido em função das temperaturas encontradas em cada um dos estratos da montanha, estando por isso localizados acima das condições climáticas que sustentam outras formas de vegetação como as árvores.
Este bioma existe nas regiões tropicais, subtropicais e temperadas pois não está diretamente relacionado com o clima de uma região mas sim com a variação da temperatura e da humidade em altitude. As plantas e animais das regiões montanhosas tropicais exibem adaptações marcantes às condições frescas e húmidas e à luz solar intensa. Em todo o mundo, as plantas características destes habitats exibem características como superfícies cerosas e abundante pilosidade.
Os Andes e o Planalto do Tibete são os exemplos mais extensos deste tipo de habitat, embora as espécies sejam mais diversificadas nas montanhas de África oriental, nomeadamente no Monte Kilimanjaro ou no Monte Quénia. No Monte Kinabalu na Malásia, no Bornéu e na região central da Nova Guiné estes ecossistemas são muito limitados em extensão, pois são extremamente isolados, mas sustentam plantas e animais altamente endémicos.
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Animais dos pastos e matagais de alta montanha
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A aridez característica e o oxigénio limitado, associados a fortes perturbações naturais como secas e geadas, limitam o desenvolvimento da vida, mas favoreceram o estabelecimento daquelas espécies que foram capazes de se adaptar a essas condições frias, onde os recursos são escassos. Ainda assim, as pastagens de montanha do planalto tibetano ainda suportam migrações relativamente intactas como o antílope tibetano (Pantholops hodgsoni) ou o kiang (Equus kiang).
Nos Andes a fauna mais representativa, embora não exclusiva, é a vicunha (Vicugna vicugna), o guanaco (Lama guanicoe), a chinchila (Chinchilla brevicaudata) ou a viscacha (Lagidium sp.). Este habitat inclui ainda espécies de aves ameaçadas como o corriqueiro real (Cinclodes aricomae), o flamingo de James (Phoenicopterus jamesi) ou a gallarreta gigante (Fulica gigantea).
Kiang
Ⓒ CC BY-SA 3.0Vicunha
Ⓒ CC BY-SA 3.0Guanaco
Ⓒ Domínio públicoCorriqueiro real
Ⓒ CC BY-SA 4.0Flamingo de James
Ⓒ CC BY 2.0
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Sensibilidade a distúrbios
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Estes habitats são altamente sensíveis à lavoura, ao sobrepastoreio e à queima excessiva devido às condições climáticas e aos solos difíceis. São necessárias grandes paisagens naturais pois os vertebrados maiores procuram recursos sazonais ou fragmentários amplamente distribuídos.
As fontes de água e vegetação ribeirinha é muito importante para a sobrevivência da vida selvagem em regiões mais secas.
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Galeria de imagens
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Face norte do Pico Evereste no Tibete, China.
Ⓒ CC BY-SA 2.5Parque Nacional dos Alpes Suíços, Suíça.
Ⓒ Public DomainVista aérea do Vale Carbajal na cordilheira dos Andes, Argentina.
Ⓒ CC BY-SA 4.0Vegetação envolvente do Cântaro Magro que corresponde a um filão dolerítico com o topo a 1928m de altitude na Serra da Estrela, Portugal.
Ⓒ CC BY 3.0Ponte românica de São Nicolau de Bujaruelo datada do século IX nos Pirinéus, Espanha.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Monte Aconcágua visto da entrada do Parque Provincial Aconcágua, Argentina.
Ⓒ CC BY 3.0

Distribuição das Planícies Inundadas e Pântanos
Ⓒ CC BY-SA 3.0
Planícies inundadas e pântanos
Este bioma é comum aos quatro continentes da Terra e corresponde a uma grande extenção de pastagens alagadas que sofrem inundações quase constantes e são sustentadas por solos de turfa. Estas áreas suportam numerosas plantas e animais adaptados aos regimes hidrológicos e condições do solo únicos. Nestas regiões encontramos grandes congregações de aves aquáticas permanentes ou migratórias. No entanto, a importância destes habitats para essas aves varia conforme a disponibilidade de água.
Algumas das planícies inundadas mais notáveis mundialmente são os Everglades na América do norte, o Pantanal na América do Sul, Lago Chade ou as savanas inundadas do Sudão do Sul, ambas em África. Nelas podemos encontrar vegetação aquática típica como os nenúfares (Nymphaea sp.) e um complexo submerso de plantas que é dominado pela utriculária (Utricularia sp.)
Os Everglades são, segundo o WWF, a maior planície inundada do mundo alimentada por chuvas e sobre calcários, onde podemos encontrar cerca de 11.000 espécies de plantas, 25 variedades de orquídeas, 300 espécies de pássaros e 150 espécies de peixes. O Pantanal, uma das maiores áreas húmidas continentais da Terra, suporta mais de 260 espécies de peixes, 700 aves, 90 mamíferos, 160 répteis, 45 anfíbios, 1.000 borboletas e 1.600 espécies de plantas.
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Animais das planícies inundadas e pântanos
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Em qualquer dos habitats a vida das aves é afetada pela diminuição dos níveis de água. No Lago Chade e suas planícies alagadas, a ave mais abundante é a pernalta (Philomachus pugnax), com mais de um milhão de aves vistas no lago ao mesmo tempo. Nas zonas húmidas de Hadejia-Nguru as aves aquáticas mais comuns são o siriri cariblanco (Dendrocygna viduata), o marreco (Anas querquedula) ou o arrabio (Anas acuta).
Este bioma suporta relativamente poucas espécies de mamíferos ainda assim podemos encontrar duas espécies de lontra (Lutra maculicollis e Aonyx capensis), o hipopótamo (e.g. Hippopotamus amphibius), a sitatunga (Tragelaphus spekei) ou o cobo (Kobus kob).
No Pantanal existem várias espécies em vias de extinção ou ameaçadas com populações reprodutivas substanciais nesta área. Entre eles estão o jaguar (Panthera onca), a ariranha (Pteronura brasiliensis), a arara-azul (Anodorhynchus hyacinthus), o tatu canastra (Priodontes gigantes) ou o cervo do pantanal (Blastocerus dichotomus). A população de jaguares é particularmente grande na região que se alimentam da abundância de capivara (Hydrochaeris hydrochaeris), entre outros mamíferos.
Siriri cariblanco
Ⓒ CC BY-SA 2.5Marreco
Ⓒ CC BY-SA 3.0Lontra de pescoço pintado
Ⓒ CC BY-SA 2.0Hipopótamo comum
Ⓒ CC BY 2.0Capivara
Ⓒ CC BY-SA 4.0
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Sensibilidade a distúrbios
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A manutenção da integridade hidrográfica é fundamental para esses habitats. Muitas espécies vagueiam vastas áreas de inundação e procuram a abundância sazonal de recursos pelo que a destruição dos habitats ribeirinhos provoca importantes dificuldades para muitas espécies.
O desvio e a canalização dos fluxos de água têm grande impacto na integridade destes habitats. Este bioma é altamente sensível às mudanças na qualidade da água, decorrentes da poluição e eutrofização.
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Galeria de imagens
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Parque estadual de Trap Pond, EUA.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Na imagem pode ver-se o Pantanal na região de Mato Grosso, Brasil.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Parque pantanoso de Xixi em Hangzhou, China.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Na imagem pode ver-se o Lago Chade visto do espaço pela nave espacial Apollo 7, Chade.
Ⓒ Public DomainMuitos pássaros nidificam nos pântanos como este melro de cabeça amarela (Xanthocephalus xanthocephalus) na Colúmbia Britânica, Canadá.
Ⓒ CC BY 2.0Na imagem pode ver-se um cipreste dos pântanos (Taxodium distichum) no sul do Louisiana, EUA.
Ⓒ CC BY-SA 3.0

Distribuição dos Manguezais
Ⓒ CC BY-SA 3.0
Manguezais
Os manguezais, também conhecidos como florestas de mangues, são um tipo de habitat que se desenvolve nos solos alagados e salgados das regiões tropicais e subtropicais. Estes estão sujeitos ao fluxo e refluxo diário das marés, às marés quinzenais e às flutuações sazonais do clima. Estendem-se entre a zona intertidal até ao ponto máximo da maré alta. Estas florestas são compostas, segundo o WWF, por cerca de sessenta espécies de árvores tolerantes ao sal.
A vegetação dos manguezais, altamente adaptada, pode prosperar nestas áreas de solo mole, encharcado e pobre em oxigénio, usando as suas raízes aéreas e até horizontais para ganhar terreno. As raízes também absorvem oxigénio do ar, enquanto as folhas da árvore podem expelir o excesso de sal.
Associadas às espécies arbóreas, há toda uma série de plantas aquáticas tolerantes ao sal. Juntas, fornecem importantes habitats para uma vasta gama de espécies de animais aquáticos. Os ecossistemas de mangues são mais diversificados nos mares do sul da Ásia e menos diversificados nas Caraíbas. Já as florestas de mangues na costa ocidental de Madagáscar suportam uma série de espécies de aves endémicas ameaçadas de extinção.
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Animais dos manguezais
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Nos mangues asiáticos, várias espécies de mamíferos podem ser encontrados em populações pequenas e dispersas. Os elefantes selvagens (Elephas maximus) são representados por uma pequena população de aproximadamente 150 animais que, durante o verão seco, descem das montanhas até os manguezais para beber água salgada.
Alguns mamíferos costumavam ser abundantes em toda a região mas foram perseguidos até quase à sua extinção. Não se sabe ao certo mas pequenas populações de tigres (Panthera tigris), de leopardos (Panthera pardus) ou de cães selvagens asiáticos (Cuon apinus) povoam os manguezais em declínio em busca de presas como o sambar (Cervus unicolor), o cervo porco (Cervus porcinus), o cervo rato (Tragulus javanicus) ou o javali (Sus scrofa), que são em cada vez maior número, devido ao declínio de seus predadores.
A vida nos mangues é rica em aves aquáticas como o darter oriental (Anhinga melanogaster), o pequeno cormorão (Phalacrocorax nigers), a garça-real (Egretta sacra), a garça-cinzenta (Ardea sumatrana) ou a galinha d'água (Gallinula chloropus). Um dos moradores mais ameaçados é o andorinhão de ninho comestível (Collocalia fuciphaga), encontrado em cavernas rochosas de calcário, pois os seus ninhos são altamente valorizados e recolhidos para consumo.
Tigre
Ⓒ CC BY-SA 3.0Sambar
Ⓒ CC BY-SA 2.5Javali
Ⓒ CC BY-SA 3.0Darter oriental
Ⓒ CC BY 2.0Galinha d'água
Ⓒ CC BY 3.0
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Sensibilidade a distúrbios
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Os manguezais requerem regimes hidrográficos e de salinidade relativamente intactos. Se essas condições não permanecerem dentro dos padrões naturais, a manutenção ou a restauração de manguezais é difícil ou impossível.
Os manguezais são muito suscetíveis à poluição, particularmente ao petróleo e outros compostos de petróleo. A alteração dos níveis de salinidade pode ter impactos dramáticos sobre os manguezais.
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Galeria de imagens
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Vegetação típica de manguezal em Semporna, Malásia.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Mangue vermelho (Rhizophora mangle) na Baía, Brasil.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Floresta de mangues em La Restinga, Venezuela.
Ⓒ CC0A seguir aos mangues do Recife no Brasil, Pichavaram abriga a segunda maior floresta de mangues do mundo, Índia.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Um conjunto de mangais adaptados à salinidade nas margens do rio Vellikeel no distrito de Kannur de Kerala, Índia.
Ⓒ CC BY-SA 3.0Na imagem pode ver-se um caranguejo violinista, também conhecido por chama maré (Uca coarctata), um dos muitos habitantes das florestas de mangues em Rinca, Indonésia.
Ⓒ CC BY-SA 4.0
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Referências
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