As cidades: principais áreas de fixação humana (Pág. 78-96)
Critérios para classificação das cidades
A expansão urbana – as áreas metropolitanas e as megalópoles
Consequências do crescimento das cidades
A procura de soluções para os problemas das cidades
A organização funcional das cidades
Interdependência entre o espaço urbano e o espaço rural
O modo de vida do espaço rural e urbano
As cidades são aglomerados populacionais de grande dimensão com população heterogénea, ou seja, proveniente de diferentes locais e com profissões diferentes, que dependem do espaço rural em produtos alimentares e fornecem bens e serviços tanto à sua área como ao espaço envolvente.
As primeiras cidades surgiram quando o Homem se sedentarizou, ou seja, se fixou num determinado lugar, contudo, até à Revolução Industrial[História] Conjunto de transformações profundas ocorridas na indústria inglesa, iniciadas no século XVIII, e que, progressivamente, se espalharam por outros países da Europa, da América do Norte e da Ásia. a maioria da população concentrava-se sobretudo em pequenas aldeias e trabalhava principalmente na agricultura. O desenvolvimento da indústria atraiu muita população dos campos, originando o aparecimento e/ou crescimento de muitas cidades. Como as indústrias necessitavam de atividades de apoio (bancos, transportes, comércio, seguradoras, tribunais, ...), aos poucos estas foram-se desenvolvendo e a sua população passou, gradualmente, a trabalhar em atividades do setor terciário.
Critérios para classificação das cidades:
Facilmente distinguimos o espaço urbano (cidade) do espaço rural (campo) pelos diferentes elementos paisagísticos que o compõem como a construção de edifícios muito altos, a elevada densidade das construções, o elevado número de habitantes, de vias de comunicação ou de atividades económicas.
Contudo, definir um lugar como sendo uma cidade varia de país para país,ou seja, não existe uma definição universal. Muitos países, nomeadamente Portugal, atribuem o título de cidade a um determinado lugar tendo em consideração diversos fatores em simultâneo, ou seja, esta atribuição está dependente, principalmente, dos seguintes critérios:
O numérico/demográfico: que corresponde ao número mínimo de habitantes e/ou densidade populacional, a partir do qual um lugar pode ser considerado cidade;
O funcional: que corresponde ao tipo de atividades de ocupação dos seus habitantes. Tem especial relevância um lugar que tenha uma grande parte ou a maioria da população empregada no setor terciário;
O político: que corresponde ao facto de um lugar ser capital de um país, de uma região, de um distrito, de um concelho, e que, portanto, têm capacidade administrativa;
O jurídico/administrativo: que corresponde aos lugares que são elevados à categoria de cidade por decisão administrativa de uma entidade política como por exemplo um rei ou um parlamento (Figura 1);
Figura 1: Carta de elevação de Viana do Minho (Viana do Castelo) à categoria de cidade outorgada pela Rainha D. Maria II em 20 de janeiro de 1848.
O morfológico: que corresponde à fisionomia de um lugar, ou seja, o tipo de edifícios, a existências de praças ou de monumentos de diferentes épocas e, por vezes, a existência de muralhas.
Em Portugal, a atribuição da categoria de cidade a um determinado lugar cabe à Assembleia da República e os seus parâmetros estão definidos na Lei nº 142/85, de 18 de novembro (Figura 2).
Figura 2: Excerto da Lei nº142/85 de 18 de novembro.
O surgimento das cidades:
As cidades atuais são o resultado de uma evolução que foi ocorrendo ao longo de vários séculos:
A cidade da Antiguidade: as primeiras cidades da Antiguidade eram, essencialmente, centros religiosos, administrativos, culturais, artesanais ou locais de mercado de pequena dimensão. Estas apareceram primeiramente na Mesopotâmia[História] Corresponde ao nome dado para a área entre os rios Tigre e Eufrates, que nos dias de hoje corresponde a aproximadamente a maior parte do atual Iraque e Kuwait, além de partes orientais da Síria e de regiões ao longo das fronteiras Turquia-Síria e Irão-Iraque. A Mesopotâmia é considerada um dos berços da civilização, já que foi na Mesopotâmia onde surgiram as primeiras civilizações por volta do VI milénio a.C. As primeiras cidades foram o resultado culminante de uma sedentarização da população e de uma revolução agrícola, que se originou durante a Revolução Neolítica. O homem deixava de ser um coletor que dependia da caça e dos recursos naturais oferecidos para produzir os seus próprios alimentos. e depois no Egito, na Turquia, na Índia ou na China, instalando-se nas margens de grandes rios. Explicam-se pela disponibilidade de água e pela existência de terras férteis para a prática da agricultura nas suas proximidades (Figura 3);
Figura 3: Grande zigurate de Ur, Iraque.
A cidade Medieval: em tempos conturbados e marcados pelas guerras (mesmo antes do período Medieval) os locais mais comuns para o surgimento de cidades respondiam a preocupações de defesa. Estas surgiram em colinas de difícil acesso (como a Acrópole em Atenas, Grécia) ou em ilhas e/ou tômbolos[Geomorfologia] Corresponde a um acidente geográfico do litoral em que uma ilha junto à costa se une ao continente por uma estreita faixa resultante da acumulação de sedimentos. nas lagunas (como em Peniche em Portugal, Veneza em Itália ou Dubrovnik na Croácia). Continuou, como até hoje, a desempenhar as funções religiosas, administrativas, culturais, artesanais ou comerciais. Frequentemente dispunham de muralhas para a sua proteção (Figura 4);
Figura 4: Cidade Medieval de Carcassonne, França.
A cidade industrial: com o apaziguar das guerras e o surgimento da Revolução Industrial as cidades (sobretudo as europeias) foram palco de grandes transformações. Cresceram de forma muito rápida para fora e/ou derrubaram as muralhas pois já não eram precisas com o fim das guerras. Destacaram-se cada vez mais as classes sociais (burguesia e operariado) que se localizavam em locais distintos das cidades. As cidades localizaram-se sobretudo junto de fontes de energia (como o carvão) e de matérias primas (como o ferro) importantes à época e, geralmente, de difícil transporte e equiparam-se com estradas, iluminação ou caminhos de ferro. Cresceram de forma muito rápida pois surgiam cada vez mais atividades dos setores secundário e terciário, que atraiam população para o espaço urbano e, em contrapartida, diminui a população do espaço rural porque o desenvolvimento de maquinaria dispensava trabalhadores das atividades primárias. Neste contexto surgiram cidades muito importantes como Manchester (polo industrial no século XVIII) ou Pittsburg (conhecida pelas reservas de ferro), ambas no Reino Unido (Figura 5);
Figura 5: Manchester o berço da Revolução Industrial em cerca de 1850, Reino Unido.
A cidade atual: a partir de 1950 o crescimento das cidades foi ainda mais rápido e generalizou-se a todo o Mundo. No entanto, há que distinguir a evolução deste fenómeno nos Países Desenvolvidos[Economia; Política] Conjunto de países que passaram pelo desenvolvimento da indústria, cuja população ativa se insere maioritariamente no setor secundário e no setor terciário. (PD) e nos Países Em Desenvolvimento[Economia; Política] Conjunto de países que ainda não passaram por um processo de desenvolvimento industrial, ou que apenas o iniciaram a partir da segunda metade do século XX, pelo que ainda apresentam uma percentagem muito elevada da população a trabalhar no setor primário. (PED). Nas últimas décadas, as cidades dos PD continuaram a crescer, embora de forma mais lenta comparando com a era industrial. Nos PED, a péssimas condições de vida que ainda se fazem sentir no espaço rural, acabam por afastar a população dos campos que acaba por procurar melhores condições de vida nas cidades impulsionando o êxodo rural, razão pela qual as cidades destes países têm crescido a um ritmo muito acelerado (Figura 6).
Figura 6: Evolução da população urbana entre 1950 e 2025 (estimativa).
Fatores de crescimento urbano:
Existem vários fatores que exercem poder de atração sobre a população. Estes variam com o tempo e com o espaço. Assim:
Nos PD: até cerca de meados do século XX (cerca de 1950), o crescimento das cidades foi muito elevado devido a uma natalidade muito elevada, mas também devido ao aumento dos empregos do setor secundário e terciário, preferencialmente nas cidades, (sobretudo após a Revolução Industrial[História] Conjunto de transformações profundas ocorridas na indústria inglesa, iniciadas no século XVIII, e que, progressivamente, se espalharam por outros países da Europa, da América do Norte e da Ásia.) que atraíram as pessoas dos campos levando ao êxodo rural.
A partir de meados do século XX, o crescimento das cidades foi mais reduzido devido à redução da natalidade, mas também devido à melhoria dos meios de transporte, nomeadamente o automóvel, que permitem que as pessoas vivam no espaço rural e trabalhem na cidade.
Nos PED: crescimento muito rápido do espaço urbano devido à elevada natalidade e aos fracos rendimentos obtidos nos campos, o que leva a que os seus habitantes abandonem os mesmos e procurem nas cidades melhores condições de vida (êxodo rural).
Urbanização no Mundo:
O número de habitantes a residir em cidades está, portanto, em constante crescimento, razão pela qual estas aumentam de tamanho e se expandem para a periferia[Urbanismo] Conjunto de áreas situadas em torno de uma cidade. O mesmo que arredores ou subúrbios.. O processo de urbanização e suburbanização que corresponde à construção e alargamento de cidades que está dependente, obviamente, da construção de infraestruturas como o saneamento, as redes de água e gás, as vias de comunicação ou os serviços de educação ou saúde, também se intensificou de diferentes formas, de acordo com o grau de desenvolvimento dos países. Assim, para se perceber como esta é diferenciada é importante ter em consideração a Taxa de urbanização[Urbanismo] Corresponde à percentagem de habitantes/população a residir em cidades/espaços urbanos em relação à população total. (Figura 7).
Figura 7: Taxa de urbanização e principais aglomerados urbanos, 2011.
Na figura anterior pode verificar-se que na maioria dos Países Desenvolvidos[Economia; Política] Conjunto de países que passaram pelo desenvolvimento da indústria, cuja população ativa se insere maioritariamente no setor secundário e no setor terciário. (PD) predomina uma Taxa de urbanização superior a 75% (ou seja, nos PD mais de 75 habitantes em cada 100 habitam numa cidade). Na maioria dos Países Em Desenvolvimento[Economia; Política] Conjunto de países que ainda não passaram por um processo de desenvolvimento industrial, ou que apenas o iniciaram a partir da segunda metade do século XX, pelo que ainda apresentam uma percentagem muito elevada da população a trabalhar no setor primário. (PED), especialmente na Ásia do sul e em África predomina uma Taxa de urbanização igual ou inferior a 50% (ou seja, 50 pessoas ou menos em cada 100 habitam numa cidade)
Apesar da Taxa de urbanização[Urbanismo] Corresponde à percentagem de habitantes/população a residir em cidades/espaços urbanos em relação à população total. ser maior, em geral, nos países mais desenvolvidos, é nos países que estão em desenvolvimento que se encontram os maiores quantitativos de população urbana, dada a população total aqui existente ser maior. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em 1900 cerca de 10% da população mundial habitava numa cidade; em 2007 cerca de 50% da população mundial residia num espaço urbano; em 2050 estima-se que já será cerca 75% da população a residir nas cidades.
Independentemente do conceito de cidade, assiste-se a um aumento quer do número de cidades, quer da sua dimensão, por serem atrativas para a população e para as atividades económicas como a indústria, o comércio ou os serviços.
A expansão urbana – as áreas metropolitanas e as megalópoles:
Determinar os limites de uma cidade, ao contrário do que acontecia no passado, é cada vez mais difícil devido ao seu rápido crescimento, muitas vezes descontrolado, para a periferia[Urbanismo] Conjunto de áreas situadas em torno de uma cidade. O mesmo que arredores ou subúrbios.. A expansão das cidades faz com que estas se estendam por grandes áreas podendo dar origem a áreas metropolitanas, resultantes da união de vários aglomerados populacionais como cidades, vilas ou aldeias, com características maioritariamente típicas de uma cidade, mas intercaladas por áreas não urbanas e interligadas por redes de transporte e ainda dependentes umas das outras.
Exemplo deste fenómeno são a Área Metropolitana do Porto (AMP) e a Área Metropolitana de Lisboa (AML). Nesta última, a cidade de Lisboa depende da cidade da Amadora e vice-versa pois, é na cidade de Lisboa que existem mais locais de trabalho, mas é na cidade da Amadora que existem mais espaços residenciais com preços acessíveis à população, estando, portanto, as duas relacionadas. O mesmo acontece com outras cidades da área metropolitana(Figura 8).
Figura 8: Área Metropolitana do Porto (AMP) e Área Metropolitana de Lisboa (AML).
Por vezes, o crescimento das cidades efetua-se de forma tão intensa que os espaços rurais nos arredores de uma cidade vão desaparecendo (suburbanização). Também, por vezes, mesmo que duas cidades (ou mais) não tenham grandes relações de interdependência (como referido no exemplo de Lisboa e Amadora) mas que se encontram relativamente próximas, estas podem acabar por se unir, devido ao seu alargamento. Este processo designa-se por conurbação, ou seja, agrupamento de cidades que se desenvolveram individualmente formando uma mancha urbanizada contínua. São disso exemplo a conurbação de San Francisco – Oakland – San José, na Califórnia (EUA) ou Lille – Roubaix – Tourcoing, em França (Figura 9).
Figura 9: Formação da conurbação de Lille – Roubaix – Tourcoing.
Em determinadas regiões do mundo, a área urbanizada estende-se por centenas de quilómetros. Estes aglomerados urbanos, com dez ou mais milhões de habitantes, são a consequência mais significativa deste alargamento das cidades. Estes aglomerados são conhecidos por megacidades ou megalópoles. Atualmente identificam-se sete megalópoles mundiais (Figura 10).
Figura 10: Megalópoles mundiais e principais cidades constituintes.
Consequências do crescimento das cidades:
As cidades, independentemente do tamanho, localização ou grau de desenvolvimento, têm uma herança comum – os problemas. Estes são mais graves, em geral, nos países menos desenvolvidos devido ao rápido crescimento da população que não é acompanhado com um tão rápido crescimento da satisfação das suas necessidades. Destacam-se principalmente três tipos de problemas:
Problemas ambientais
- Aumento da poluição atmosférica devido ao grande fluxo de veículos e/ou gases libertados pelas indústrias (Figura 11);
- Deficiente gestão na recolha e tratamento de lixo doméstico e industrial (Figura 12);
- Contaminação das águas do subsolo devido ao desajustamento das redes de drenagem e tratamento dos esgotos domésticos e industriais;
- Aumento da poluição sonora produzida pelos veículos ou máquinas industriais.
Figura 11 e 12: Central elétrica a carvão de Belchatow, Polónia. Poluição provocada pela insuficiência na recolha e tratamento de lixo na cidade de Beirute, Líbano.
Problemas urbanísticos
- Aumento da habitação precária e clandestina maioritariamente na periferia em áreas vulneráveis com fortes declives e/ou leitos de cheia[Hidrologia; Geologia] Corresponde à zona temporariamente coberta pelas águas quando ocorrem cheias extraordinárias, inundações ou tempestades. (Figura 13);
- Ausência ou insuficiência de prestação de serviços como fornecimento de água, eletricidade, gás ou comunicações;
- Falta de habitação e/ou sobrelotação de edifícios (elevada altura e concentração);
- Falta de espaços verdes ou de estacionamento;
- Sobrecarga serviços de saúde ou educação;
- Degradação de edifícios sobretudo nos centros históricos;
- Elevado preço do solo;
- Intenso volume de tráfego e de congestionamentos (Figura 14);
- Impermeabilização dos solos.
Figura 13 e 14: Favela Rocinha no Rio de Janeiro, Brasil. Ponte Széchenyi Lánchíd sobre o Rio Danúbio em Budapeste, Hungria.
Problemas socioeconómicos
- Aparecimento e/ou aumento de problemas de exclusão social que conduzem a áreas associadas a alguns grupos raciais/étnicos conduzindo por isso ao racismo e/ou xenofobia (Figura 15);
- Aumento do desemprego e da mendicidade;
- Envelhecimento da população das cidades devido ao êxodo urbano de jovens;
- Aumento da criminalidade sobretudo nas zonas/cidades que crescem mais desordenadamente (Figura 16).
Figura 15 e 16: Problema associado ao racismo. Problema associado à criminalidade.
A procura de soluções para os problemas das cidades:
A solução para as problemáticas urbanas enfrenta dois grandes entraves – a falta de recursos financeiros disponíveis para as solucionar e a grandeza dos problemas encontrados.
Ainda assim, tendo em consideração a preocupação ambiental e perante as várias soluções tecnológicas já existentes ou outras que possam surgir, atualmente são várias as cidades (ou apenas parte delas) reconhecidas pelo seu modelo de sustentabilidade. São exemplo disso as cidades de Reiquejavique – Islândia, Malmö – Suécia, Friburgo – Alemanha ou Vancouver – Canadá.
Possíveis soluções para os problemas
- Reabilitar edifícios no centro das cidades;
- Dotar a cidade de rede de transportes eficiente e menos poluentes;
- Construção de bairros sociais e arruamentos para peões;
- Criação de espaços verdes (Figura 17) e parques de estacionamento;
- Sensibilização da população para o uso racional de água e seu reaproveitamento;
- Tornar os edifícios mais eficientes a nível elétrico (Figura 18), de isolamento ou luminosidade;
- Incentivos às deslocações feitas a pé ou de bicicleta;
- Promoção de uma educação ecológica desde os primeiros anos de escolaridade;
- Ações efetivas para a diminuição da emissão de gases poluentes;
- Criação sistemas de recolha e tratamento de lixo dando destino adequado aos resíduos.
Figura 17 e 18: Bosco verticale em Milão, Itália. Bairro residencial de Schlierberg em Friburgo, Alemanha.
A organização funcional das cidades:
As cidades desempenham uma grande diversidade de funções que permitem às populações acederem aos bens e serviços de que necessitam para satisfazer as suas necessidades. As várias funções urbanas encontram-se distribuídas pela cidade mas, por vezes, estas encontram-se relativamente agrupadas constituindo as áreas funcionais (Figura 19). A sua localização é determinada por vários fatores, destacando-se o preço do solo e a acessibilidade, ou seja o grau de facilidade com que um lugar pode ser acedido a partir de outros. Regra geral, quanto maior for a acessibilidade maior é o preço do solo.
Figura 19: Planta funcional da cidade de Coimbra.
Centro
É o espaço de maior centralidade, de acessibilidade, de circulação de pessoas e onde o preço do solo é mais caro. Aqui encontra-se grande parte de comércio (sobretudo o mais seletivo como lojas de grandes marcas) e das atividades financeiras (como os bancos ou seguradoras).
Estas características variam de cidade para cidade. Em cidades com centros históricos antigos, existe ainda alguma função residencial. Nas cidades mais recentes, o centro é composto quase exclusivamente por comércio, escritórios ou sedes de grandes empresas. Esta área tem diferentes designações: Central Business District (CBD) em cidades dos EUA, City no Reino Unido ou Baixa em Portugal.
Áreas residenciais
Estas áreas ocupam a maior parte do espaço urbano, sendo frequente que se caracterizem pela construção em altura devido ao elevado preço do solo e à falta de espaço. Existe, por vezes, uma separação muito vincada tendo em conta o nível socioeconómico dos seus residentes (Figura 20). Em cidades mais antigas existem ainda grandes áreas residenciais no centro, no entanto, quando o centro deixa de responder às espectativas dos residentes (ou porque as casas são muito caras, ou porque não têm garagens, ou porque não existem espaços verdes) estes começam a migrar para a periferia, em busca de casas mais baratas ou melhor qualidade de vida.
Figura 20: Síntese das principais características das áreas residenciais.
Áreas industriais
Atualmente, sobretudo nos países mais desenvolvidos, localizam-se nas áreas periféricas construídas propositadamente para o efeito. A pressão ambiental, a falta de espaço e o menor preço do solo, aliados às melhores acessibilidades, levaram ao afastamento progressivo das indústrias para a periferia dos centros urbanos, nomeadamente para as zonas industriais.
Áreas comerciais
Devido ao elevado custo do solo ou à falta de espaço no centro, bem como o crescimento das cidades para a periferia, surgem novas centralidades. O espaço disponível e a melhor acessibilidade atraem serviços como a restauração, o comércio, as atividades de lazer ou os hipermercados criando novos centros, contribuindo para a capacidade de atração da cidade (Figura 21).
Figura 21: Centro comercial Leiria Shopping, a nova centralidade da cidade.
Funções urbanas:
Existem cidades que foram fundadas para exercerem uma atividade específica, no entanto, a maioria exerce varias funções, podendo haver uma função (por vezes mais do que uma) que se destaca das outras. As funções mais comuns são:
Função industrial
As cidades desenvolveram-se devido à forte tradição industrial, mesmo que atualmente essa atividade já não se faça sentir tão ativamente (por exemplo a cidade de Manchester – Reino Unido, Lyon – França, Hamburgo – Alemanha, Calgary – Canadá ou Barreiro – Portugal).
Nos Países Desenvolvidos[Economia; Política] Conjunto de países que passaram pelo desenvolvimento da indústria, cuja população ativa se insere maioritariamente no setor secundário e no setor terciário. (PD) as indústrias localizam-se maioritariamente em parques industriais na periferia onde existe bastante espaço para o seu aumento e onde o preço do solo é mais barato. Nos Países Em Desenvolvimento[Economia; Política] Conjunto de países que ainda não passaram por um processo de desenvolvimento industrial, ou que apenas o iniciaram a partir da segunda metade do século XX, pelo que ainda apresentam uma percentagem muito elevada da população a trabalhar no setor primário. (PED) como o processo de industrialização é muito recente e débil, ainda é comum que as indústrias se encontrem no centro das cidades (Figura 22).
Função comercial
As cidades estão intimamente ligadas à atividade comercial e a prestação de serviços (lojas, bancos, companhias de seguros, escritórios, hotéis), sedo esta muitas vezes, a razão do seu crescimento, uma vez que funciona como polo de atração para a população. Esta função existe em todas as cidades embora com importância diferenciada (por exemplo Milão – Itália (Figura 23).
Função religiosa
Está associada a importantes locais de peregrinação como os santuários ou igrejas (por exemplo a cidade de Lourdes – França, Meca – Arábia Saudita, Benares – Índia, São Tiago de Compostela – Espanha, Jerusalém – Israel, Vaticano ou Fátima – Portugal) (Figura 24).
Figura 22, 23 e 24: Polo industrial Ruskin no estado da Flórida, EUA. Galeria Vittorio Emanuele II em Milão, Itália. Basílica de São Pedro, Vaticano.
Função turística
São cidades com excelentes condições para a prática de diferentes formas de turismo (por vezes interligado à função cultural). As áreas de montanha ou de praia podem dar origem ao crescimento de uma cidade tendo o turismo como atividade principal (por exemplo Saint-Tropez – França, Saint Moritz – Suíça, Miami – EUA, Barcelona – Espanha ou Albufeira – Portugal) (Figura 25).
Função cultural
Todos os grandes centros urbanos têm atividades culturais muito diversificadas tais como teatros, óperas, galerias de arte, bibliotecas ou museus. Algumas destas cidades são conhecidas por uma grande oferta cultural com influência a nível mundial (por exemplo Nova Iorque – EUA, Cannes ou Paris – França ou Londres – Reino Unido).
Existem também cidades conhecidas pela profunda ligação ao ensino. Por vezes, a população destas cidades é maioritariamente estudantil (por exemplo Oxford ou Cambridge – Reino Unido, ou Coimbra – Portugal (Figura 26).
Função residencial
Esta função existe em todas as cidades e, por vezes, reflete claramente o nível económico dos seus residentes, existindo, por isso, áreas habitacionais bem individualizadas (desde os bairros de luxo aos bairros degradados). Algumas cidades surgiram como cidade-dormitório das áreas metropolitanas, porém com o passar do tempo, estas vão desenvolvendo atividades próprias (por exemplo Guangzhou – China, Amadora, Loures, Valongo ou Maia – Portugal) (Figura 27).
Figura 25, 26 e 27: Miami, EUA. Universidade de Coimbra, Portugal. Bairro residencial em Boston, EUA.
Função político-administrativa
Está associada à Administração Central que integram os centros de decisão política da região, país ou conjunto de países. Geralmente são as capitais dos países onde se localiza a sede do governo, o parlamento ou os ministérios. Esta presença dos decisores nacionais acaba por atrair atividades comerciais, culturais, industriais ou mesmo turísticas (por exemplo Washington – EUA, Brasília – Brasil ou Lisboa – Portugal) (Figura 28).
Função militar
A atividade militar foi a causa da fundação de muitas cidades, quer para defesa quer para domínio do espaço envolvente. Ainda hoje se encontram muitas cidades com vestígios dessas funções (por exemplo Toledo – Espanha, Carcassonne – França ou Chaves, Valença ou Marvão – Portugal) (Figura 29).
Função transporte
Algumas cidades surgiram e/ou desenvolveram-se por serem importantes nós de ligação de vias de comunicação (por exemplo Estrasburgo – França ou Milão – Itália por se encontrarem no cruzamento de estradas importantes, Colónia – Alemanha por estar no cruzamento de vias de navegação ou Entroncamento – Portugal por ter interseção de linhas férreas de grande importância) (Figura 30).
Figura 28, 29 e 30: Assembleia da República, Lisboa. Praça forte de Valença. Estação de caminhos de ferro do Entroncamento.
Morfologia urbana:
No estudo das áreas urbanas, além da análise funcional e do uso do solo, importa também analisar a morfologia urbana através das plantas das cidades. A planta descreve a organização espacial e a sua morfologia, ou seja, o traçado das ruas e a combinação entre espaços edificados e espaços livres.
Destacam-se três tipos de plantas principalmente pelo aspeto da rede viária: a planta ortogonal, a planta radioconcêntrica e a planta irregular. Raramente se encontra só um tipo de planta numa cidade, pois as cidades são fruto de evolução ao longo da sua história e, como tal, refletem as diferentes etapas do seu crescimento:
Planta ortogonal, regular ou reticular
Esta planta tem um traçado geométrico, retilíneo com ruas paralelas e perpendiculares. Este tipo de traçado é o que predomina nas áreas mais recentes das cidades modernas com extensas áreas planas. Este tipo de planta é de fácil planeamento, rápida construção e permite uma grande rentabilização do espaço (por exempolo Nova Iorque – EUA, Toronto – Canadá, Sydney – Austrália, Espinho ou a Baixa Pombalina em Lisboa – Portugal) (Figura 31).
Figura 31: Planta parcial da cidade de Sydney, Austrália.
Planta radioconcêntrica
Apresenta um núcleo central, em torno do qual se desenham vias de comunicação mais ou menos circulares, cortadas pelas principais vias de comunicação (assemelha-se a uma teia de aranha). Por vezes, o núcleo central é um local de grande importância pela presença, por exemplo de uma igreja, um castelo, uma praça ou um mercado (por exemplo Palmanova – Itália, Amesterdão – Países Baixos, Moscovo – Rússia ou Évora – Portugal) (Figura 32).
Figura 32: Planta parcial da cidade de Amesterdão, Países Baixos.
Planta irregular
É uma planta urbana com traçado desordenado, labiríntico, com ruas estreitas, muito sinuosas (curvas), becos e pátios interiores. Este tipo de traçado resulta do crescimento gradual e casuístico da cidade, sem planeamento prévio. Encontra-se por exemplo em cidades muçulmanas do norte de África ou do Médio Oriente (por exemplo Marraquexe – Marrocos ou Jerusalém – Israel) ou nos centros históricos das cidades medievais europeias (por exemplo Toledo – Espanha ou Lisboa e Coimbra – Portugal) (Figura 33).
Figura 33: Planta parcial da cidade de Jerusalém – Israel.
Interdependência entre o espaço urbano e o espaço rural:
As áreas urbanas têm características próprias que as diferenciam das áreas rurais, no entanto entre ambas estabelecem-se relações de complementaridade, pois o que uma necessita a outra oferece e vice-versa (Figura 34).
Figura 34: Relações de complementaridade entre o espaço urbano e rural.
Modo de vida do espaço rural e urbano:
Os modos de vida da população que vive no espaço urbano ou no campo são, regra geral muito diferentes. No espaço urbano a população dedica-se, essencialmente, a atividades ligadas ao comércio, aos serviços e à indústria, obtendo rendimentos e/ou salários mais elevados. Os hábitos de vida são marcados por uma maior agitação e stress relacionados com as características próprias da cidade (por exemplo o congestionamento de trânsito, o excesso de pessoas nas ruas ou a poluição sonora). A forma de ocupação dos tempos livres é mais diversificada, pela existência de uma maior oferta comercial e/ou recreativa (por exemplo os centros comerciais, os cinemas, os teatros ou as casas da cultura). O espaço urbano é também marcado pelo maior individualismo da população e pela sensação de insegurança.
No espaço rural existe uma menor diversidade de empregos, razão pela qual a população está mais ligada às atividades agrícolas, à pecuária (criação de gado) ou à silvicultura (exploração da floresta). Nos países mais desenvolvidos, a tranquilidade e a qualidade ambiental são características que atraem cada vez mais população para este espaço. As relações de proximidade e entreajuda são mais evidentes entre as comunidades rurais, existindo um sentimento de união entre as pessoas e o território.
Apesar de existirem características que distinguem o espaço rural do espaço urbano é cada vez mais difícil estabelecer barreiras entre ambos, devido à melhoria dos meios de transportes, devido ao aumento progressivo das áreas urbanas ou também devido à mudança de mentalidades dos seus habitantes.
-
Referências
-
Gaspar, J., & Simões, J. (2005). Planeamento e ordenamento do território. In Geografia de Portugal. Lisboa: Circulo de Leitores.
Hillier, B., & Hanson, J. (2003). The social logic of space. Cambridge: Cambridge University Press.
Kohlsdorf, M. (1996). A apreensão da forma da cidade. Brasília: Universidade de Brasília.
Pacione, M. (2013). Urban Geography. Hoboken: Taylor and Francis.
Portas, N., Domingues, A., & Cabral, J. (2007). Políticas urbanas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Salgueiro, T. (1992). A cidade em Portugal. Uma geografia urbana. Porto: Afrontamento.
Salgueiro, T. (2005). Cidade e sistema urbano; Paisagens urbanas; A cidade como espaço de vida e lugar de produção. In Geografia de Portugal. Lisboa: Circulo de Leitores.
Santos, N. (2001). A sociedade de consumo e os espaços vividos pelas famílias. Lisboa: Edições Colibrí.